sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dor de Garganta



A dor de garganta, uma dos sintomas mais comuns da prática médica, tanto em adultos quanto em crianças, surge geralmente devido a um quadro de faringite e/ou amigdalite. Neste texto vamos explicar as causas, os sintomas e o tratamento da dor de garganta.


Faringite é o nome dado à inflamação da faringe; amigdalite é a inflamação das amígdalas. Ambas apresentam como principal sintoma a dor de garganta. Como estão anatomicamente próximas, é muito comum a faringe e as amígdalas inflamarem simultaneamente, um quadro chamado de faringoamigdalite. Apesar de inflamarem juntas, algumas pessoas tem predominantemente amigdalite, enquanto outras, faringites. Ao longo do texto vou alternar os termos faringite e amigdalite, mas o que vale para uma, também serve para a outra.
Antes de continuarmos, estudem o desenho ao lado para saberem de que estruturas vou falar a seguir. Todas elas podem ser vistas ao abrirmos a boca em frente a um espelho.

A faringoamigdalite pode ser causada por infecções bacterianas ou virais. A maioria dos casos é de origem viral. Vários tipos de vírus podem levar à faringite e/ou amigdalite. A gripe é um exemplo comum de dor de garganta de origem viral (leia: DIFERENÇAS ENTRE GRIPE E RESFRIADO).


Orofaringe
As faringites virais são processos benignos que se resolvem espontaneamente, ao contrário das faringites ou amigdalites bacterianas podem levar a complicações, como abscessos e febre reumática. A dor de garganta causada por bactérias deve ser sempre tratada com antibióticos (explico o porquê adiante).

Como distinguir uma amigdalite viral de uma bacteriana?

O modo mais correto é através da coleta de material da garganta por swab ou Zaragatoa, uma vareta com algodão na ponta usada para colher material da área inflamada para posterior avaliação laboratorial. A análise do material colhido pelo swab consegue identificar o agente infeccioso, seja uma bactéria ou um vírus.

Apesar da ajuda do swab, há um problema de ordem prática: a identificação do agente infeccioso demora pelo menos 48-72h. Por isso, muitas vezes os médicos optam por iniciar o tratamento baseado em achados clínicos. Até já existem testes laboratoriais mais rápidos para se identificar bactérias, mas nem sempre há facilidade para se colher e enviar o material para análise.

Explicaremos a seguir como distinguir uma faringite viral de uma faringite bacteriana apenas com elementos clínicos.

Sintomas da faringite | Sintomas da amigdalite

Os sintomas da amigdalites/faringite são:

- Dor de garganta
- Febre
- Dores pelo corpo
- Dor de cabeça
- Prostração

Todos os sintomas citados acima são comuns tanto em infecções virais quanto bacterianas. São necessários, portanto, outros elementos para distinguir uma da outra.


Faringite viral - Inflamação sem edema de úvula, sem pus ou petéquias.
Normalmente as faringites virais vêm acompanhadas de outros sinais de infecção das vias respiratórias, como tosse, espirros, constipação nasal, conjuntivite e/ou rouquidão. Infecções respiratórias de origem viral não costumam causar sintomas restritos à faringe ou amígdala. Outra dica é que na faringite viral, apesar da garganta ficar muito inflamada, não é comum haver pus.


Amigdalite bacteriana - pontos de pus nas amígdalas e inchaço da úvula
Já as amigdalites causadas por bactérias, além de não apresentarem os sintomas respiratórios descritos acima, costumam causar pontos de pus nas amígdalas e aumento dos linfonodos (gânglios) do pescoço. A faringite bacteriana também pode causar edema da úvula e petéquias (pontos hemorrágicos) no palato. A febre da infecção bacteriana costuma ser mais alta que na viral, mas isso não é uma regra, já que há casos de gripe com febre bem alta.


Amigdalite bacteriana - petéquias no palato
A presença de pus e gânglios aumentados na região do pescoço fala fortemente a favor de uma faringite bacteriana. Entretanto, algumas infecções virais, como a mononucleose infecciosa também podem cursar com estes achados.

A mononucleose é causada pelo vírus Epstein-Barr e costuma se apresenta com febre, amigdalite purulenta e aumento de linfonodos na região posterior do pescoço (ao contrário da amigdalite bacteriana que apresenta aumento dos linfonodos da região anterior do pescoço). Outros sinais e sintomas possíveis são o aumento do baço, perda de peso, cansaço extremo e sinais de hepatite. O quadro de mononucleose pode ser facilmente confundido com uma faringoamigdalite bacteriana. A prescrição de antibióticos, como a Amoxacilina, em doentes com mononucleose pode levar a um quadro de alergia, com aparecimento manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. Saiba mais em: (leia: MONONUCLEOSE - DOENÇA DO BEIJO ).

Como se pode ver, a distinção entre faringites virais e bacteriana é importante, já que os tratamentos são diferentes. Se houver suspeita de faringite viral, o indicado é repouso, hidratação e sintomáticos. Se o quadro sugerir faringite bacteriana, devemos iniciar antibióticos visando não só acelerar o processo de cura, mas também a prevenção das complicações e da transmissão para outras pessoas da família, principalmente aquelas com contato íntimo e prolongado.

Complicações das faringites/amigdalites bacterianas

Entre as complicações das faringites bacterianas, a principal é a febre reumática, que ocorre principalmente em jovens e crianças (leia: FEBRE REUMÁTICA | Sintomas e tratamento).

A escarlatina é uma doença causada pela bactéria Streptococcus. Apresenta-se como faringite, febre e rash difuso.(leia: ESCARLATINA | Sintomas e tratamento).

A glomerulonefrite pós estreptocócica é uma lesão renal também causada pela mesma bactéria Streptococcus. Costuma cursar com hipertensão (leia: SINTOMAS E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO), presença de sangue na urina (leia: HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE)) e insuficiência renal aguda. (leia: INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA ).

Existe uma tipo de psoríase, chamado de psoríase gutata, que está relacionada a faringites pelo Streptococcus. (leia: PSORÍASE | Tipos e sintomas). São lesões de pele que surgem sempre que há uma infecção de garganta, desaparecendo após a sua cura.

Tratamento da amigdalite | Tratamento da faringite

Para se evitar as complicações das amigdalites bacterianas descritas acima, o tratamento deve ser sempre feito com antibióticos. Na maioria dos casos, em 48h já há uma grande melhora dos sintomas.

O tratamento com antibióticos derivados da penicilina, como amoxacilina, deve ser feito por 10 dias. Nos pacientes alérgicos a penicilina uma opção é Azitromicina por 5 dias. Naqueles doentes com intenso edema da faringe, que não conseguem engolir comprimidos, ou naqueles que não desejam ficar tomando remédio por vários dias, uma opção é a injeção intramuscular de penicilina Benzatina, o famoso Benzetacil, administrado em dose única.

Se os sintomas da faringite bacteriana forem muito fortes, enquanto espera-se o efeito dos antibióticos, pode-se usar anti-inflamatórios para aliviar a inflamação da garganta. Mas atenção, os anti-inflamatórios são apenas sintomáticos, eles não tratam a infecção bacteriana.

A faringites virais normalmente duram apenas quatro ou cinco dias e se curam sozinhas. Não é preciso, nem é indicado, o uso de antibióticos. Se os sintomas forem muito incômodos, pode-se usar anti-inflamatórios por dois ou três dias. De resto, repouso e boa hidratação.

Tratamentos alternativos:
Mel: Não há nenhum trabalho que tenha conseguido demonstrar benefício do mel.
Própolis: Apresenta efeito anti-inflamatório pequeno. Funciona muito menos que qualquer anti-inflamatório comum.
Papaína: Além de não melhorar, em grandes quantidades pode piorar a inflamação.
Não há trabalhos que provem a eficácia da homeopatia ou fitoterapia no tratamento das faringites. O tempo de doença e a incidência de complicações é igual ao placebo.
Quem quiser alívio sintomático sem tomar muitos remédios, o ideal é realizar vários gargarejos diários com água morna e uma pitada de sal.

A retirada das amígdalas (amigdalectomia) é uma opção nas crianças que apresentam mais de seis episódios de faringite estreptocócica por ano. Como a incidência das complicações é muito menor em adultos, neste grupo a indicação de amigdalectomia é mais controversa, pois existe a possibilidade de não haver melhora, fazendo apenas com que o paciente deixe de ter crises de amigdalites e passe a ter crises de faringites, o que no final dá no mesmo.

Em pacientes com infecções de garganta de repetição podem-se formar criptas (pequenos buracos) nas amígdalas. Estas acumulam cáseo (ou caseum), uma substância amarelada, parecida com pus, que é na verdade restos celulares de processos inflamatórios antigos. O cáseo pode causar mau hálito em pessoas com amigdalite/faringite crônica

Leia o texto original no site MD.Saúde: DOR DE GARGANTA | FARINGITE | AMIGDALITE http://www.mdsaude.com/2009/03/dor-de-garganta-faringite-amigdalite.html#ixzz1kfYw7bXr